Não Choreis os Mortos

Não choreis nunca os mortos esquecidos

Na funda escuridão das sepulturas.

Deixai crescer, à solta, as ervas duras

Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,

Agonizar... guardai, longe, as doçuras

Das vossas orações, calmas e puras,

Para os que vivem, nudos e vencidos.

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,

Da multidão sem fim dos que são vivos,

Dos tristes que não podem esquecer.

E, ao meditar, então, na paz da Morte,

Vereis, talvez, como é suave a sorte

Daqueles que deixaram de sofrer.

Pedro Homem de Mello, in "Caravela ao Mar"

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